Moradores da periferia de São Carlos enfrentam preconceito para trabalhar
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013Moradores de bairros da periferia de São Carlos (SP) reclamam da dificuldade de conseguir emprego na cidade de São Carlos quando dizem o local em que vivem. “Às vezes eles até encerram a entrevista antes”, contou a balconista Naiara Cecília de Andrade Souza, de 20 anos, que mora no Cidade Aracy.
A história se repete com vizinhos que já enfrentaram a mesma dificuldade. “Eu procurei emprego no comércio da cidade nas áreas em que eu tinha feito curso, que são para organizador de eventos e informática básica. Às vezes eles até marcavam entrevista, mas quando eu chegava lá, eles quase não davam chance pra gente conversar”, falou a vendedora Juliene de Jesus Marciano, de 21 anos.
Para ela, fica claro que muitas atitudes são motivadas pelo preconceito. “Quando eu falo que sou do Aracy, as pessoas já ‘torcem o nariz’, vão saindo de lado, não conversam mais. Eu sinto muita discriminação, não só pelo bairro, mas também porque sou negra”, desabafou Juliene.
As inúmeras respostas negativas, entretanto, não fizeram a jovem desistir. “Eu trabalhei de varredora de rua e depois fui contratada por uma empresa que decidiu me dar uma chance para trabalhar no pedágio. E agora eu passei no concurso dos Correios, então, estou bem feliz”, comemorou Juliene, que é um exemplo de superação.
“Eu tenho objetivos e sempre busco algo melhor, não posso me acomodar. Eu pretendo fazer uma faculdade de fisioterapia e sei que tenho que fazer um cursinho preparatório. Mas eu vou fazer. Quero mostrar que mesmo quando não se tem condições, com estudo é possível conseguir”, defendeu Juliene.
Sentimento comum
A empregada doméstica Eliene da Silva de Jesus, de 54 anos, também sentiu esse preconceito. Ela veio de São Paulo há 16 anos e comprou um terreno no bairro. “Quando eu cheguei aqui até chorei de tanta dificuldade que tive para arrumar emprego. Todo mundo me dizia que quem vinha de fora para morar aqui era bandido”, relembrou.
Eliene conta que chegou até a passar necessidade. “Passei muita necessidade porque eu não conhecia ninguém e não tinha para quem pedir ajuda, até que, mesmo tendo estudado só até a 4ª série, eu consegui passar num concurso da Prefeitura de São Carlos”, celebrou.
Anos depois, ela sentiu o crescimento do local. “Hoje está bem evoluído aqui. Tem banco, farmácia, o comércio é bem legal, mas, ainda assim, até hoje as pessoas discriminam muito esse bairro”, afirmou Eliene.
Naiara também vê o crescimento, mas diz que ele não aliviou a situação de emprego. “Eu cheguei a procurar emprego no próprio bairro, mas aqui é difícil, porque a maioria das vagas é para quem é da família”, finalizou Naiara.
Fonte: G1